NOTICIAS


Editora Diário Oficial amplia oportunidades e incrementa produção literária local











Já haviam se passado 12 anos desde o movimento armado de 1964. Mas o pior não estava apenas na lembrança. As perseguições e torturas continuavam. No tradicional carnaval do Cotinguiba, em Aracaju, o clima de tensão se confundia com a alegria inerente à festividade. No domingo, segunda e terça, as prisões-sequestros se intensificaram. Era a Operação Cajueiro. Seu objetivo: desmontar o Partido Comunista. "A repressão chegou com ânimo redobrado, e, logo depois, as notícias tomavam conta da cidade, de que o nível de violência era de tal porte que já não tínhamos elementos para compará-lo ao de 1964".
O relato histórico acima está presente na obra 'Os Ícones de um Terremoto', do jornalista Paulo Barbosa de Araújo. Escrito em 1999, um ano antes do falecimento do autor, o livro foi lançado no último mês de dezembro pela Editora Diário Oficial, órgão suplementar da Empresa de Serviços Gráficos de Sergipe (Segrase). "Foi um apoio decisivo, fundamental", exalta a esposa de Paulo, a enfermeira e terapeuta interpessoal, Osa Araújo. "A gente sente que há um cuidado, um zelo; fez com que houvesse uma maior abertura em termos de divulgação do próprio livro", acrescenta Osa, que também foi a organizadora do conteúdo produzido pelo marido.
Assim como as memórias do Paulo Barbosa, outros seis livros já foram publicados pela editora criada há pouco mais de um ano. Juntos eles totalizam cerca de sete mil exemplares, que hoje estão disponibilizados em bibliotecas, livrarias e repartições públicas de todo o estado. "A Editora é um projeto do Governo do Estado que tem por objetivo básico ser um escoadouro da produção intelectual dos sergipanos. Essa produção se refere a diversas áreas no campo da inteligência, da produção de textos; não só de textos que estão sendo produzidos, como a produzir", coloca o diretor-presidente da Segrase, Luiz Eduardo Oliva.
Mas a necessidade de criar a Diário Oficial também é justificada pela forte tradição de Sergipe do ponto de vista das letras. "Temos uma vertente de grandes nomes, que produziram muitos livros que tiveram suas edições esgotadas e ficaram nas estantes. Portanto, é uma ação cultural de uma perenidade extraordinária, que ao mesmo tempo em que resgata informações, também começa a revelar talentos e a difundir obras que efetivamente estão esquecidas", complementa o gerente da Editora Diário Oficial, Antônio Bittencourt.
Como exemplo nesse sentido ele cita o recém-lançado livro 'Manoel Bonfim e a América Latina: A dialética entre o passado e o presente', obra pioneira do escritor Manoel Bonfim, organizada por José Vieira da Cruz e Antônio Bittencourt Júnior. "Foi uma figura extraordinária na produção cultural brasileira, mas absolutamente esquecida, sobretudo dos sergipanos", comenta Bittencourt. O livro em questão trata de temas como o antirracismo e as tensões sociais existentes no início do século passado - época em que tais assuntos estavam em evidência no país.
Política editorial
Concluída a fase inicial, de criação e início das atividades, a Editora Diário Oficial passa agora pela formulação de sua política editorial. "Será, de certa forma, temática", explica Oliva. Conforme o diretor, a proposta é contemplar as mais variadas temáticas e modalidades de texto. "Vamos ter a coleção 'Entrevistas', produzida por jovens autores com personalidades locais; a coleção 'Pensamento Sergipano', para resgatar os autores que se tornaram clássicos, como Tobias Barreto e Gumercindo Bessa, além de uma coleção científica e assim por diante", afirma.
Já iniciada está a coleção 'Municípios', que teve como obra pioneira lançada pela Diário Oficial o livro 'Poço Redondo: A Saga de um povo', do historiador Alcino Alves da Costa. “Queremos ter cada município sergipano retratado por um autor, de preferência local, para termos um estudo mais elaborado sobre eles”, diz Oliva.
“Observamos que o resultado desta primeira etapa foi extremamente positivo: primeiro pelo resultado que saiu, pela qualidade dos livros; segundo pela busca, com alguns deles já esgotados”, conclui o diretor-presidente da Segrase, lembrando ainda que, além dos livros, a Editora também tem publicado periódicos como as revistas da Procuradoria Geral do Estado (PGE) e da Academia Sergipana de Letras (ASL).
Uma novidade é que em curto prazo será montado o conselho Editorial que dará pareceres acerca dos textos cujos autores tenham interesse em publicar através da Editora Diário Oficial. “Será formado por profissionais de diversas áreas do saber, como acadêmicos e intelectuais. A ideia é que os textos sejam submetidos a esse conselho, que dará um parecer. Mas ele não necessariamente impedirá que uma obra seja publicada", observa o gerente da Editora.
Mais oportunidades
Para estimular a produção e dar oportunidade a mais escritores sergipanos, a Segrase ampliou o universo de categorias contempladas pelo Edital de Obras Literárias ao assinar no dia 9 de fevereiro de 2010 um Termo de Cooperação Técnica com a Secretaria de Estado da Cultura (Secult) e o Banese. Dessa forma, o Edital para publicação de livros com relevante contribuição cultural passou a abranger as categorias Poesia, Conto, Romance, Crônica, Literatura Infanto-Juvenil e Livros Técnico Científicos - antes eram apenas Poesia e Conto.
Os vencedores da edição anterior do Edital já tiveram suas produções impressas pela Editora do Estado. Foram eles: ‘Litorâneos’, escrito por Ronaldson (vencedor do Premio Santo Souza de Poesia/2006) e ‘De Portas Abertas’, escrito por Juraci Costa de Santana (obra vencedora do Prêmio Núbia Marques de Contos em 2006).
“Publicamos inicialmente esses dois livros que eram dívidas do Estado para com seus autores. Não buscamos nenhum critério que não fosse altamente objetivo”, comenta Oliva.
Já os vencedores da última edição do Edital, incluindo as novas modalidades, logo verão suas obras publicadas pela Editora. “O resultado já saiu e agora estamos discutindo para que comecemos a trabalhar na editoração desses livros. Eles serão impressos em parceria com a Segrase, o Banese e a Secult”, comenta Eduardo Oliva.
“Graças à Editora estamos podendo apresentar figuras que muito dificilmente teriam oportunidade. Não é simplesmente um exercício de publicação, impressão da obra. Agora estamos editando, trabalhando capa, formato do livro, fonte, distribuindo e fazendo divulgação”, ressalta Antônio Bittencourt.
Distribuição e vendagem
Os últimos livros impressos pela Diário Oficial tiveram uma tiragem de mil exemplares. Destes, 20% ficaram com o autor, 100 foram distribuídos na divulgação, outros 100 nas bibliotecas do Estado e a mesma quantidade em instituições públicas de todo o país. “Os 500 restantes estão sendo comercializados a R$ 20, mas nosso objetivo não é ter lucro. Os recursos que entram, nós estamos abrindo uma conta oficial para que sejam reaplicados em novos livros. Com isso cumprimos o papel do Estado, de fomentação da Cultura”, explica Oliva.
Um dos pontos de comercialização utilizados fica justamente na livraria instalada no Palácio-Museu Olímpio Campos. “É um entreposto de divulgação de nossos produtos. Lá nós temos prioritariamente obras de autores sergipanos”, informa o diretor-presidente da Segrase.
Próximos livros
Ao menos mais quatro livros já estão prestes a serem lançados pela Editora. Um é o ‘Microcontos’, do jornalista Célio Nunes; outro é sobre Epifâneo Dórea, organizado pela professora Gizelda Moraes; há ainda o Hinário Sergipano, reunindo os hinos que de um modo geral têm a ver com Sergipe; e um quarto sobre a história de Lampião.
Tecnologia
Os investimentos na melhoria dos equipamentos utilizados na preparação dos livros também têm sido uma constante. As novas máquinas da Editora do Estado atendem a etapas distintas da produção, indo desde a pré-impressão até os acabamentos. O destaque fica por conta da aquisição do equipamento com tecnologia CtP (Computer-to-Plate), capaz de conferir maior rapidez e qualidade ao trabalho final de registro e impressão.
“Ele extingue a ideia do fotolito; com isso temos um ganho de quatro vezes no tempo de produção. O equipamento já está instalado; agora só estamos aguardando chegar o software correto”, destaca Eduardo Oliva, lembrando que a atual gestão do poder público estadual já investiu cerca de R$ 1,7 milhão no parque gráfico da Segrase

Rank